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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Recomeçar

"Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar."

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..

sábado, 13 de novembro de 2010

O Cão Arrependido


Volta o Cão Arrependido
Com suas orelhas tão fartas
Com seu osso roido
E com o rabo entre as patas

Melhor que isso

O William Arrependido
Volta o William Arrependido
Com suas orelhas tão fartas
Com seu osso roido
E com o rabo entre as patas


Volta o William Arrependido, arrependido de que? Bom, talvez de ter feito muitas coisas alem do que deveria, podia ou então queria, arrependido de ter dedicado meu precioso tempo para ajudar quem não merece, buscar o que não devia, sonhar alto demais, tentar ser uma pessoa igual sendo completamente diferente, arrependido de ter tentado agradar a todos e não agradar ninguém, não que as pessoas não tenham ficado felizes, mas e eu fiquei feliz? Sendo, parecendo ou então dizendo ser aquilo que não sou? Arrependido de ter uma vida que nem sempre se explica, um coração confuso, a ponto de não saber nem se quer tomar água ou coca, mas alem dessa decisão simples, confuso também com o amor, não sabendo escolher a pessoa certa, ou melhor, só escolhendo a pessoa errada, quantas vezes eu não amei a mim, mas não por falta de amor, mas por amor demais me levando pra alguém quem?
Com suas orelhas tão fartas, fartas de que? Talvez fartas de tentar ouvir um conselho, talvez fartas de ouvir coisas sem sentido ou nexo, coisas que não somam nada, apenas subtraem, fartas de ouvir e dar importância aquilo que as pessoas dizem, fartas de serem puxadas, arranhadas, criticadas, chingadas, dificilmente elogiadas.

Com seu osso roído, roído de cair, cair e cair, levantar, cair, levantar e cair novamente, roído de tanto tentar reerguer aquilo que já esta pisado, jogado e massacrado no chão, até quando isso será assim? Quando irei parar de cair? Quero me levantar, mas parece que tem uma corda que me puxa pra baixo. Roído de tanto andar, sorrir, chorar, ganhar e perder, fazer o que podia, lutar contra o amor, vencer se achando perdedor! Roído de viver desprezando meu ego, dando migalhas como se fosse um cego, se enfeitar, produzir, olhar no espelho e só ver a mim, puro, simples e só!

E com o rabo entre as patas, como cãozinho que fez algo errado, mas o que é errado? Aquilo que eu faço ou o que as pessoas não consideram certo? Errado é esconder aquilo que a alma quer gritar, é camuflar o que realmente sou sou pra agradar uns e outros, quem me ama me aceita como sou, até quando um falso sorriso vai ser mais importante que sentimentos verdadeiros?
Penso até que sou louco, mas ser louco é o que? Se a loucura não existe, o que é ser louco? Eu sei o que é, ser louco é ser feliz, e como a loucura não existe, a felicidade não existe também, ou será que existe e fica escondida, tanta gente busca por dias, meses, anos e até uma vida toda e não acha a felicidade, eu sou feliz, feliz por que sei ver a felicidade em pequenos momentos que parecem irreais!

"Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só aí, eu vi que eu estava sozinho".